Arquivo de etiquetas: femme
Silêncio
Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permita que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio, e a dor é de origem divina.
Permita que eu volte o meu rosto para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho como as estrelas no seu rumo
(Cecília Meireles – Serenata)
Ilumina
Morreste sim, menina que um rio carrega,
Ó pálida Ofélia, tão bela como a neve !
– É que algum vento montanhês da Noruega
Contou que a liberdade é rude, mas é leve;
-É que um sopro, liberta a cabeleira presa,
Em teu espírito estranhos sons fez nascer
E em teu coração logo ouviste a Natureza
No queixume da árvore e do anoitecer.
– É que a voz do mar furioso, tumulto impávido,
Rasgou teu seio de menina, humano e doce;
– E em manhã de abril, certo cavalheiro pálido,
Um belo e pobre louco, aos teus pés ajoelhou-se.
E aí o céu, o amor : – que sonho, que pobre louca !
Ante ele eras a neve, desmaiado à luz;
Visões estrangulavam-se a fala na boca,
O Infinito aterrava os teus olhos azuis !
Ophelia de Arthur Rimbaud
Do amor distante
Viva a diversidade sexual!!
Em busca do sagrado: o corpo
…
II
Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes, Dionísio,
Que a teu lado te amando,
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
E que o teu corpo existe porque o meu
Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,
É que move o grande corpo teu
Ainda que tu me vejas extrema e suplicante
Quando amanhece e me dizes adeus.
…
(ODE DESCONTÍNUA E REMOTA PARA FLAUTA E OBOÉ.
DE ARIANA PARA DIONÍSIO. Hilda Hilst)
Moça com Gatos
Le chat
Viens, mon beau chat, sur mon coeur amoureux ;
Retiens les griffes de ta patte,
Et laisse-moi plonger dans tes beaux yeux,
Mêlés de métal et d’agate.
Lorsque mes doigts caressent à loisir
Ta tête et ton dos élastique,
Et que ma main s’enivre du plaisir
De palper ton corps électrique,
Je vois ma femme en esprit. Son regard,
Comme le tien, aimable bête
Profond et froid, coupe et fend comme un dard,
Et, des pieds jusques à la tête,
Un air subtil, un dangereux parfum
Nagent autour de son corps brun.
Charles Baudelaire, Les fleurs du mal